28ª Semana da Justiça pela Paz em Casa: inaugurada exposição de arte do Projeto Borboleta
A exposição de arte do Grupo de Acolhimento de Mulheres do Projeto Borboleta, inaugurada nessa terça-feira, 26/11, no Foro Central I, integra as atividades da 28ª Semana Nacional da Justiça pela Paz em Casa e apresenta obras de cerca de 25 mulheres vítimas de violência doméstica, que expressaram suas trajetórias de cura e superação através da arte. A abertura contou com a presença de magistrados, servidores, voluntários, estagiárias e mulheres do projeto Borboleta. O evento contou ainda com a participação de integrantes do grupo Mulheres Multiplicadoras de Cidadania de Cabo Verde, acompanhadas pela ONG Themis – organização que atua na promoção da igualdade de gênero e no enfrentamento à discriminação contra mulheres no sistema de justiça.
Na abertura da solenidade, a Juíza de Direito Madgéli Frantz Machado, titular do 1º Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher da capital, celebrou a participação dos magistrados em formação inicial, que conduziram suas primeiras audiências na campanha. "Hoje temos a presença de magistrados que estão participando da 28ª Semana da Justiça pela Paz em Casa, e será uma experiência importante para eles, pois terão a oportunidade de conhecer de perto o trabalho desenvolvido aqui. Essa interação com a rede e o contato com projetos como o Borboleta são essenciais para que eles atuem com sensibilidade e conhecimento ao assumirem suas futuras comarcas.", afirmou. Ao saudar os presentes, Madgéli Machado destacou a importância da colaboração de todos os envolvidos no processo de atendimento às vítimas de violência. "É uma alegria poder contar com a participação tão expressiva de todo o nosso sistema de justiça, especialmente com os nossos valorosos servidores e estagiários que desempenham um papel fundamental nesse trabalho intenso, que começa no acolhimento, no atendimento do telefone ou WhatsApp, e vai até a finalização do processo", afirmou a magistrada.
Ela também enfatizou o trabalho conjunto entre os profissionais da justiça e o Projeto Borboleta, que oferece apoio psicológico e acolhimento às mulheres em situação de violência.
Madgéli também ressaltou a importância do trabalho contínuo de combate à violência doméstica e do apoio oferecido pelo sistema de justiça. "Acreditem no sistema de justiça, procurem a polícia, procurem o Judiciário. A Lei Maria da Penha é eficaz e faz a diferença na vida das mulheres e meninas." Ela finalizou sua fala mencionando a presença das Promotoras Legais Populares de Cabo Verde, que vieram ao Brasil para conhecer o projeto Borboleta e levar essa experiência inspiradora para suas comunidades. "Estamos felizes com a visita das representantes de Cabo Verde, que se inspiraram nas promotoras de cidadania da Themis e vieram aprender mais sobre como podemos avançar no cuidado e proteção das mulheres", concluiu.
Participaram da solenidade os novos Juízes de Direito Gleisson Sartori, Daniel Vitor Rizzi Isotton, Diego Luiz Trindade, Eliana Endres Viero e Felipe Zabeu Vasen que vieram para atuar no mutirão de audiências dos juizados e o Juiz do 2° Juizado da 2ª Vara da Violência Doméstica, Sergio Fernando Tweeddie Spadoni.
O Juiz Diego Trindade, recém-chegado à Vara de Violência Doméstica, expressou entusiasmo ao participar da Semana da Justiça pela Paz em Casa. Ele ressaltou o privilégio de integrar a campanha e a relevância das audiências de acolhimento no enfrentamento à violência de gênero. "Estamos muito felizes por participar desta primeira semana. As audiências de acolhimento são um instrumento fundamental e certamente levaremos essa experiência para o interior," afirmou Trindade, destacando o impacto transformador da iniciativa.
A psicóloga que atua no projeto borboleta Aline Vettorazzi celebrou os avanços das mulheres atendidas, enfatizando a transformação emocional vivenciada por muitas delas. "É muito gratificante acompanhar o retorno das participantes pelo grupo de WhatsApp e muitas compartilham relatos inspiradores sobre como superaram barreiras para participar do Projeto. Elas retornam para suas casas com energia renovada e novas perspectivas sobre seus problemas," afirmou. Aline também ressaltou o papel do grupo como um espaço de fortalecimento emocional e cidadania. "Além dos encaminhamentos técnicos, o grupo se destaca por ser um fomentador de apoio mútuo. O mais transformador é que, ao ouvirem os relatos de outras mulheres, elas encontram força e motivação. Esse processo coletivo tem um poder de cura realmente excepcional," concluiu.
Ao encerrar a apresentação, a Juíza Madgéli Machado, responsável pela iniciativa, enfatizou a importância da integração entre os projetos e a rede de apoio às mulheres. "Além da exposição, estamos realizando audiências concentradas e contamos com visitas muito especiais, como as mulheres de Cabo Verde, que vieram conhecer nosso trabalho e se inspiram nas Promotoras Legais Populares da Themis. É gratificante ver que nossas ações podem ultrapassar fronteiras," destacou.
Estiveram presentes as Lideranças do grupo Mulheres Multiplicadoras da Cidadania, de Cabo Verde, Maria de Jesus Mendes Simedo e Eveline Nair Tavares, as promotoras Legais Populares formadas pela ONG Themis, Maria Inês Nunes Barcelos e Maria de Fátima da C. Silva e a representante da ONG Themis, Ana Caroline Silva dos Santos Moraes. Inspirado nas Promotoras Legais Populares, o projeto cabo-verdiano capacita mulheres para atuar no acolhimento e suporte a vítimas de violência de gênero.
Ao conhecer o projeto, a coordenadora do projeto Fla Sim pa Mudjer, da Associação Caboverdiana de Luta Contra a VBG , elogiou a atividade do Projeto Borboleta. "O trabalho que se realiza aqui é transformador e queremos levar essas inspirações para fortalecer a defesa das mulheres em nossas comunidades. A atividade de hoje foi muito potente, mostrou que nós mulheres não estamos sozinhas e que é possível dizer não à violência" destacou uma das representantes.
Umas das integrantes do Grupo de Acolhimento, M.T.R.S, 57 anos, enfatizou a força do Projeto Borboleta. "Temos o direito de ouvir, de falar e de nos expressar. Esse projeto é um recomeço na minha vida, uma grande oportunidade para aprender e crescer. Toda semana, sinto minha autoestima aumentar e percebo a importância de as mulheres buscarem seus direitos e falarem. Não podemos viver sendo maltratadas ou ameaçadas. Precisamos de paz, alegria e coragem para seguir em frente. É isso que importa para nós.”.
Exposição
Os encontros do Grupo de Acolhimento de mulheres do Projeto Borboleta são realizados todas as terças-feiras no Foro Central, sendo considerado um importante espaço de acolhimento para mulheres que chegam até o Judiciário através da medida protetiva. Ao explicar sobre a atividade artística, a psicóloga do projeto, Aline Vettorazi, celebrou como uma das ferramentas mais transformadoras para ajudar mulheres a superarem seus traumas. "Muitas chegam com marcas profundas, com situações de violência muito recentes. O grupo tem um papel fundamental nesse primeiro momento, acolhendo e oferecendo suporte emocional e a arte acaba se tornando um grande motor. Muitas vezes, o trauma da violência bloqueia a fala. Por meio da expressão artística, as mulheres conseguem se comunicar de uma maneira que vai além das palavras, ressignificando suas experiências e sentimentos," explica a psicóloga.
A proposta do grupo vai além do suporte psicológico, buscando, através da arte, dar às mulheres uma nova forma de ver a si mesmas e de contar suas histórias. "A atividade artística oferece uma forma lúdica e interessante de falar sobre o que foi doloroso, permitindo que elas transformem suas experiências de maneira mais leve e, muitas vezes, mais acessível," conclui a psicóloga.
A programação da Semana iniciou com a instalação de bancos vermelhos, símbolo da luta contra o feminicídio, em espaços do Poder Judiciário, além de uma agenda intensa de atividades e debates sobre o enfrentamento à violência de gênero.
Semana da Justiça pela Paz em Casa
A Semana da Justiça pela Paz em Casa é uma ação nacional promovida pelo Conselho Nacional de Justiça para fortalecer a aplicação da Lei Maria da Penha . A campanha integra a Política Judiciária Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres e tem como objetivo acelerar o andamento de processos relacionados à violência doméstica por meio de mutirões de audiências, além de promover atividades de conscientização em todo o país.
Em Porto Alegre, estão programadas 420 audiências, que incluem medidas protetivas e sessões de instrução e julgamento de casos criminais. Diversas Comarcas também realizarão eventos especiais em alusão à campanha.